Olá, queridos leitores!

Chegamos à quinta postagem do blog, e hoje vamos explorar como a forma visual do texto – tanto na sua apresentação quanto nos recursos utilizados – influencia a comunicação on-line.

Apresentação de texto e pragmática on-line

Quando produzimos um texto escrito, seja on-line ou off-line, tomamos decisões sobre a aparência desse texto. Podemos escolher o tamanho e o estilo das letras, podemos escolher a pontuação a ser usada ou não e podemos escolher se vamos empregar recursos adicionais, como sublinhado, negrito ou itálico. Até mesmo pequenas alterações na apresentação do texto na página podem afetar a forma como os leitores entendem a mensagem e a percepção que têm do escritor (Lea e Spears, 1992).

Os escritores podem usar a tipografia e a apresentação do texto para orientar os leitores quanto ao significado pretendido do enunciado, ou seja, eles podem usar a aparência do texto para orientar os leitores nas inferências que eles fazem. A comunicação digital nos oferece uma ampla gama de opções quando se trata da apresentação do texto na página virtual. Com relativa facilidade, podemos alterar o tamanho, a cor e o tipo de letra do texto on-line. O uso de tipografia fora do padrão, seja em itálico, maiúsculas ou negrito, exige mais esforço do leitor.

Outra característica comum da apresentação do texto na escrita mediada digitalmente é a ortografia não padronizada ou excêntrica. Isso às vezes é chamado de "ortografia vocal" (Riordan e Kreuz 2010: 1809) e geralmente envolve o uso de letras repetidas. Seja pela ortografia fora do padrão ou pelo uso fora do padrão da capitalização, podemos ver que os usuários on-line estão usando os recursos disponíveis para comunicar suas mensagens.

Comunicação Online e Offline: Alinhe às Necessidades do seu Negócio

Pontuação on-line

Os falantes e escritores têm um repertório de dispositivos que podem usar para orientar o destinatário quanto ao significado pretendido de um enunciado (Wilson, 2011). Isso inclui a prosódia e a entonação nos enunciados falados e a pontuação nos enunciados escritos. A pontuação fora do padrão tem sido associada há muito tempo à comunicação mediada digitalmente (Danet, 2001) e, em particular, à comunicação de emoções e postura (Langlotz e Locher, 2012).

Na linguagem escrita off-line, os pontos finais (chamados de periods no inglês americano) marcam o limite entre uma frase e a seguinte. No entanto, em contextos on-line, eles parecem ter assumido uma nova função, pelo menos para alguns usuários. De acordo com David Crystal (2015), os pontos finais agora podem ser usados para marcar a emoção, e uma frase que termina com um ponto final é considerada como sinal de aborrecimento ou raiva. Na escrita off-line, os pontos finais têm uma finalidade muito clara e prática. Sem eles, seria mais difícil processar um texto, pois não ficaria claro onde uma frase termina e outra começa. 

Entretanto, em formas síncronas de comunicação mediada digitalmente, como mensagens instantâneas e bate-papo, as quebras de linha agora servem a esse propósito. As trocas de mensagens de texto tendem a ser mais curtas do que os textos escritos off-line (Baron 2010), e os usuários podem facilmente enviar uma sequência de mensagens, uma para cada frase. Como a principal função off-line dos pontos finais é amplamente redundante nas mensagens instantâneas, uma perspectiva pragmática pode nos ajudar a entender por que essa nova associação negativa pode ter surgido em determinados textos. De acordo com a teoria da relevância, não devemos fazer com que nossos destinatários realizem nenhum processamento desnecessário. Se um escritor exigir do leitor um esforço extra, o leitor procurará um significado extra. Os leitores inferirão qual é esse significado extra seguindo o procedimento de compreensão da teoria da relevância.

É claro que um leitor deve levar em consideração as habilidades e preferências do escritor ao interpretar um enunciado. Muitas vezes, os ânimos se exaltam em relação ao que é considerado correto ou aceitável em termos de pontuação e, de fato, em termos de uso da linguagem em geral. Alguns escritores podem optar por pontuar suas mensagens síncronas e informais de uma forma mais associada a textos assíncronos ou formais simplesmente porque acreditam que essa é a maneira correta e adequada de se. Outros usuários podem simplesmente incluir pontos finais hábito e talvez não estejam cientes das convenções, práticas e associações emergentes. Isso pode, é claro, levar a mal-entendidos se as suposições do leitor sobre as habilidades, preferências e intenções do escritor estiverem incorretas.

Indicadores de força ilocucionária

Embora encontremos uma variedade de casos em que emoticons e emojis são usados ​​para transmitir emoção, é limitante supor que esta seja sua única função (Dresner e Herring 2010). A função primária de emoticons e emojis é transmitir significado pragmático, e isso pode contribuir para a mensagem geral de diversas maneiras. Por exemplo, em uma conversa online, o uso de um emoji de "polegar para cima" 👍 pode funcionar como uma forma de confirmação ou concordância, sem necessariamente envolver uma emoção. Da mesma forma, o emoji de "olhos" 👀 pode indicar atenção ou expectativa, sinalizando ao interlocutor que algo está sendo observado ou aguardado. Além disso, emojis como o "relógio"  ou o "avião" ✈️ podem ser usados para contextualizar informações sobre horários e viagens, respectivamente, contribuindo para a clareza da comunicação.

Significado proposicional

À medida que o número de emojis disponíveis aumentou, tornou-se possível representar cada vez mais objetos e atividades em forma de emoji. Dada a propensão à brincadeira e à criatividade de muitos usuários em espaços online, talvez não seja surpreendente que emojis sejam, às vezes, usados ​​como substitutos lexicais.

Exemplos:

Em vez de escrever "Vamos tomar um café?", um usuário pode escrever: "Vamos ?"

Para dizer "Fui à academia hoje", alguém pode postar: "Hoje foi dia de 🏋️"

Em uma conversa informal, ao invés de escrever:

"Estou viajando de avião", a frase pode se tornar: "Tô de ✈️"

Uma mensagem como "Hoje é dia de pizza!" pode ser simplificada para: "Hoje é dia de 🍕!"

Uma frase "Estou exausto", a pessoa pode usar: "Tô 😩"

Ironia e sarcasmo

Há também evidências de que os usuários empregam emoticons para indicar que estão sendo sarcásticos. O sarcasmo e a ironia verbal, de forma mais geral, dependem muito do contexto e sempre envolvem inferência (Wilson e Sperber 2012; Wilson 2017).

Exemplos:

"Nossa, que ótima ideia 🙄"
→ O emoji de olhos revirados (
🙄) sinaliza que a pessoa provavelmente não acha a ideia realmente boa.

"Claro, porque sair na chuva é tudo que eu queria hoje 😒"
→ A expressão facial de desagrado (
😒) ajuda a indicar que a fala é irônica.

"Adorei trabalhar até mais tarde de novo 😂"
→ O emoji de risada (
😂), nesse contexto, pode não expressar alegria real, mas sim sarcasmo diante de uma situação desagradável.

A partir dessa gama de exemplos e estudos, podemos ver que emoticons e emojis são empregados por usuários para orientar a interpretação de enunciados de uma ampla variedade de maneiras. Eles fornecem pistas sobre o significado pretendido do enunciado, mas não podem ser interpretados sem referência ao contexto discursivo em que são produzidos.

Gifs de reação

Um GIF (graphic interchange format, formato de intercâmbio gráfico) é uma imagem curta, silenciosa e animada, geralmente recortada de um vídeo de origem mais longo, que é reproduzido em um loop. A opção de anexar um GIF a uma publicação ou mensagem está integrada a muitas interfaces de mídia social, incluindo Twitter, WhatsApp e até mesmo a função de bate-papo em ferramentas de conferência na Web, como o Microsoft Teams. Embora os emojis possam ser integrados em uma mensagem mais longa ou enviados, os GIFs de reação geralmente são enviados como um turno completo. Eles podem ter uma mensagem anexada a eles e geralmente incluem uma anotação de texto sobre a imagem como parte do próprio GIF. O tema dos GIFs geralmente é conteúdo da cultura popular, e muitos são clipes editados de programas de televisão, vídeos pop ou filmes.

Os GIFs são muito populares e são outro exemplo de inovação orientada pelo usuário, em que um recurso digital é adaptado e desenvolvido para ajudar os usuários a atingir seus objetivos de comunicação. Em um estudo sobre o uso do umblr, Bakhshi et al. (2016) descobriram que os GIFs eram curtidos e re-blogados com mais frequência do que publicações de texto, imagens ou vídeos, e também descobriram que os GIFs que apresentavam rostos mais engajamento do que aqueles que não o fizeram. Os possíveis motivos dessa popularidade foram explorados por meio de entrevistas, e os usuários forneceram uma série respostas.

Os emoticons e emojis oferecem uma ampla gama de opções para o usuário. No entanto, os GIFs podem ser facilmente criados pelos próprios usuários em apenas alguns instantes. Isso significa que a biblioteca de GIFs de reação disponíveis está em constante crescimento e, se o usuário não encontrar algo que se adeque ao seu gosto já pronto, ele poderá criá-lo. Os GIFs de reação também se baseiam e fazem referência à mídia cultural, e os GIFs individuais podem se tornar extremamente populares e fortemente associados a uma reação específica. Dessa forma, eles podem se tornar uma abreviação digital que não apenas expressa uma emoção ou reação, mas também demonstra o conhecimento cultural e a alfabetização digital do usuário.

De uma perspectiva pragmática, podemos entender o ato de publicar um GIF como um ato de exibição. O usuário está mostrando o clipe aos seus destinatários e eles interpretarão esse ato de mostrar procurando como ele pode ser relevante. Assim como no caso do uso de emoji discutido anteriormente neste capítulo, o uso de um GIF não pode ser um ato acidental de comunicação. A expressão facial ou o gesto representado no GIF pode não ter sido produzido originalmente como um ato de comunicação. O GIF pode capturar uma reação espontânea e não comunicativa ou um vazamento emocional acidental. Entretanto, ao mostrar uma representação disso ao destinatário, o usuário do GIF realiza um ato ostensivo.

REFERÊNCIAS

MACHADO, Emerson. Qual a diferença entre emoji ou emoticon? Disponível em: https://www.diferenca.com/emoticons-e-emoji/. Acesso em: 11/04/2025.

SOUZA, Ramon de. Você sabe qual é a diferença entre emoticons e emojis? Disponível em: https://www.tecmundo.com.br/web/86866-voce-sabe-diferenca-entre-emoticons-emojis.htm?ab=true&. Acesso em: 11/04/2025.

SCOTT, Kate. Pragmatics Online. [S. l.]: Taylor & Francis Group, 2022. 192 p. ISBN 9781003254201.

 

 

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