Olá, queridos leitores!

Chegamos à nossa nona postagem do blog! Hoje, mergulharemos em um conceito essencial para entender como os textos se conectam entre si: a intertextualidade. Afinal, quase tudo o que dizemos ou escrevemos carrega algo que já ouvimos ou lemos antes.

O que é intertextualidade?

Quase todas as palavras e frases que usamos já havíamos ouvido ou visto antes. Nossa originalidade e nossa habilidade como escritores advêm das novas maneiras como juntamos essas palavras para se adequarem às situações específicas, às nossas necessidades e aos nossos propósitos específicos, mas sempre dependemos do repertório linguístico comum que compartilhamos uns com os outros. Dessa forma, nós criamos os nossos textos a partir do oceano de textos anteriores que estão à nossa volta e do oceano de linguagem em que vivemos. Enquanto escritores, às vezes, queremos salientar o lugar onde obtemos tais palavras e, outras vezes, não. Enquanto leitores, às vezes, reconhecemos de forma consciente de onde vêm não só as palavras, mas também os modos como elas estão sendo usadas; outras vezes, a origem apenas sugere uma influência inconsciente. Com efeito, a relação que cada texto estabelece com os outros textos à sua volta é chamada de intertextualidade.

A intertextualidade diz respeito as relações explícitas e implícitas que um texto ou um enunciado estabelecem com os textos que lhe são antecedentes, contemporâneos ou futuros (em potencial). Através de tais relações, um texto evoca não só a representação da situação discursiva, mas também os recursos textuais que têm ligação com essa situação e ainda o modo como o texto em questão se posiciona diante de outros textos e os usa. Apesar de ser hoje em dia um fenômeno amplamente reconhecido, ainda não há um vocabulário analítico padrão comum que dê conta dos elementos e dos tipos de intertextualidade. Para fins de análise, podemos distinguir os diferentes níveis de intertextualidade por meio dos quais um texto evoca explicitamente outros textos e se apoia neles como um recurso consciente.

A intertextualidade também ocorre com textos visuais, como nesta releitura de “A Última Santa Ceia”.

Fonte: toda matéria

Citação de fontes autorizadas: Um texto pode remeter a outros textos, citando fontes consideradas confiáveis (como leis ou ditados populares) para reforçar seu argumento ou sentido.

Referência a dramas sociais anteriores: O texto pode representar conflitos sociais já existentes, trazendo falas de diferentes grupos (como políticos ou sindicatos), criando uma narrativa intertextual de confronto.

Uso de outras declarações como base argumentativa: Citações de reportagens, enciclopédias ou obras literárias são utilizadas como apoio, contraponto ou fundamentação de argumentos no texto. 

Apoio em ideias e crenças difundidas: Textos podem se basear em crenças amplamente aceitas ou senso comum, mesmo sem citar fontes específicas, evocando temas familiares ao leitor (como questões sociais e educacionais).

Evocação de mundos sociais por meio da linguagem: O uso de certos estilos, gêneros e linguagens associa o texto a contextos sociais específicos (como o meio acadêmico, político ou jornalístico), situando-o nesses universos.

Uso implícito da linguagem intertextual: O texto se apoia em expressões e formas linguísticas ligadas a seu tempo e cultura, mesmo sem destacar diretamente a intertextualidade (como conceitos escolares e gírias culturais).

Com efeito, esses níveis de intertextualidade podem ser reconhecidos através de certas técnicas que representam as palavras e os enunciados de outros, começando pelo mais explícito.

1. Citação direta: é a forma mais explícita de intertextualidade. Usa aspas, itálico ou recuo para destacar as palavras exatas de outro autor. Apesar de reproduzir fielmente o texto original, o autor que cita escolhe o que incluir, excluir e em qual contexto inserir a citação.

2. Citação indireta: reproduz a ideia do texto original com palavras próprias do autor. Embora mantenha a referência à fonte, a interpretação e o tom do segundo autor influenciam o sentido, tornando a citação mais adaptada aos objetivos do novo texto.

3. Menção a uma pessoa, a um documento ou a declarações.

A menção a documentos ou a autores depende da familiaridade do leitor com a fonte original e com o que ela diz. Nenhum detalhe dos sentidos é especificado.

4. Comentário ou avaliação acerca de uma declaração, de um texto ou de outra voz evocada.

O autor interpreta ou julga uma declaração de outro, podendo endossá-la, criticá-la ou reformulá-la. Isso revela sua posição em relação à fonte e introduz sua perspectiva ao discurso citado.

5. Uso de estilos reconhecíveis, de terminologia associada a determinadas pessoas ou grupo de pessoas, ou de documentos específicos.

Esse eco não apenas evoca uma maior controvérsia pública acerca de questões pedagógicas, mas também sugere implicitamente que a educação na middle school não possui maior valor do que a televisão enquanto instrumento pedagógico.

6. Uso de linguagem e de formas linguísticas que parecem ecoar certos modos de comunicação, discussões entre outras pessoas e tipos de documentos.

        A linguagem do texto imita ou remete aos estilos típicos de certos meios (como o jornalístico, político, acadêmico), reforçando a intertextualidade por meio do formato e do registro linguístico adotado.

        As formas mais explícitas de intertextualidade, como a citação direta e indireta, são mais facilmente reconhecidas e analisadas, enquanto as mais implícitas exigem maior atenção. O conceito de alcance intertextual refere-se à distância cultural, temporal, institucional ou contextual que uma expressão ou ideia percorre entre diferentes textos, como no caso de termos esportivos usados em contextos políticos, ganhando novos sentidos. Algumas vezes, a recontextualização também pode colocar as palavras em um contexto menos amistoso ou mais crítico, ou ainda em algum contexto que as discute, avalia ou distancia de outras palavras.

Questões metodológicas da análise intertextual

        A análise intertextual pode, por exemplo, ajudá-lo a identificar em que domínio discursivo o autor se apoia e de que modo ele o faz; ou como o autor tenta garantir que seus leitores percebam determinado assunto através de um certo conjunto de textos; ou como o autor procura se posicionar em relação às outras pessoas que fizeram declarações sobre o tema. Também pode ajudá-lo a compreender como um pesquisador tenta caracterizar, aprimorar e se apoiar em trabalhos anteriores em seu campo e áreas correlatas; ou como os alunos estão assimilando e desenvolvendo uma compreensão sintética ou crítica acerca do assunto.

Qualquer que seja o enfoque da sua análise, você pode, com base nos seus exemplos, procurar um modelo a partir do qual você começará a desenvolver suas conclusões, as quais dependerão do propósito de sua investigação. Se você objetiva examinar como o autor coordena os elementos intertextuais no interior de um enunciado coerente, o seu enfoque irá recair sobre as técnicas utilizadas ao chamar as vozes dos outros para o argumento central, relacionando-as entre si ao longo da perspectiva global que está sendo desenvolvida. Se a sua finalidade é examinar o grau de manipulação no empréstimo intertextual, talvez você tenha que consultar as fontes originais e comparar a apresentação original ao modo como o novo autor as representa.

A imagem abaixo é um exemplo de intertextualidade entre as ...

Intertextualidade em vídeos

1. Lançamento da expedição Apollo 11 e comercial da Audi (2016)

   

Imagem 1: Lançamento do Apolo 11              Imagem 2: Comercial da Audi

Nesse primeiro exemplo, é possível perceber que a intertextualidade envolve vários fatores, entre eles, os símbolos, as cores, o sinal de aventura, a temática com a exploração espacial, onde em ambas as imagens, esta correlação demonstra um avanço tanto científico quanto tecnológico.

     

Imagem 3: Lançamento do Apolo 11                        Imagem 4: Comercial da Audi

            Nesse segundo exemplo, a trilha sonora reforça um marco histórico, simbólico, a nostalgia espacial, marcada pela emoção, principalmente no sentido de explorar e conquistar o desconhecido. Dessa forma, a decolagem do foguete é comparada a “decolagem” do carro.

2. O filme O grande ditador e a abertura da novela O dono do mundo

            Em vários momentos da abertura da novela O dono do mundo, nota-se a presença da intertextualidade relacionada ao filme O grande ditador. No entanto, nos limitaremos a um exemplo que demonstra com clareza elementos simbólicos semelhantes. Começando pela imagem do globo terrestre como sinal de poder e controle do mundo. Além disso, as imagens, o modo de vestir, a forma de brincar com o globo representam dominação, manipulação, crítica ao autoritarismo, reflexão sobre a ambição, a ganância, o poder.

        

   Imagem 5: Filme O grande ditador                        Imagem 6: Novela O dono do mundo 


Em síntese, a intertextualidade é um fenômeno intrínseco à produção textual, refletindo o fato de que todo texto dialoga, em maior ou menor grau, com outros textos anteriores. Ao compreendê-la, tanto leitores quanto pesquisadores podem analisar com maior profundidade as escolhas discursivas, os posicionamentos e as intenções dos autores, reconhecendo como os textos se inserem em discursos mais amplo, transformam ou reconfiguram sentidos ao longo das diferentes interações.

Referências

BAZERMAN, Charles. Intertextualidade: como os textos se apoiam em outros textos. In: DIONISIO, Angela Paiva; HOFFNAGEL, Judith Chambliss (org.). Gênero, Agência e Escrita. 2. ed. Campina Grande: EDUFCG, 2021. v. 2, p. 135-161.

 


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