Olá, queridos leitores!
Nesta oitava postagem do blog, trataremos da metáfora como recurso central que estrutura não apenas a linguagem, mas também o pensamento humano. A partir dessa perspectiva, conheceremos como as metáforas se manifestam em diferentes modos semióticos e veremos como os diferentes tipos atuam na comunicação contemporânea.
1. Contexto de Pesquisa – Desenvolvimento do Campo
A metáfora tem sido uma figura muito
debatida desde tempos imemoriais. Aristóteles ajudou a estabelecer sua fama e
apelo ao afirmar que a metáfora é essencial tanto para a retórica quanto para a
poesia. Lakoff e Johnson (1980) foram os pais da Teoria da Metáfora Conceitual (TMC), que teve um grande impacto nos
estudos voltados para a Linguística Cognitiva. Logo se descobriu que certas
metáforas corporificadas são difundidas em todas as culturas, mas também que
seu uso é refinado em variedades locais. Com efeito, duas vertentes de pesquisa
favoráveis à CMT exploraram manifestações não verbais e não puramente verbais
do pensamento metafórico.
Gestos metafóricos - que acompanham e interagem com a
fala, podendo reforçar, criar ou contradizer metáforas verbais.
Metáforas visuais - exploradas inicialmente em publicidade e depois em charges e filmes.
2. Descrição de Métodos
Uma metáfora impõe uma relação de
identidade entre duas "coisas" que são convencionalmente (ou em um
determinado contexto) consideradas como pertencentes a categorias diferentes. O
que boas metáforas fazem é fornecer novas perspectivas sobre domínios-alvo ou
mesmo impor uma estrutura onde antes não havia nenhuma. Três pontos importantes
devem ser destacados:
(i) uma metáfora frequentemente precisa ser interpretada; e
nem todo leitor/espectador/analista o fará;
(ii) às vezes, um domínio-alvo deve ser recrutado
completamente a partir de pistas extratextuais;
(iii) se A e B ainda não estiverem verbalmente dados na
construção superficial, os A e B subjacentes devem ser rotulados pelo analista,
e essa rotulação pode sutilmente “mudar” a metáfora.
No discurso verbal, a gramática ajuda a identificar e relacionar alvo e fonte, mas em modos não verbais e multimodais essa tarefa é mais complexa. Portanto, compreender metáforas não verbais exige métodos que possibilitem postular uma relação de identidade metafórica entre fenômenos de diferentes categorias. Independentemente do modo, toda metáfora apresenta uma manifestação superficial que depende do meio em que ocorre, já que cada meio permite certos modos, mas não outros.
3 Análise de Exemplos – Aplicações
3.1 Discursos estáticos versus
dinâmicos
Em imagens estáticas e discursos
multimodais envolvendo imagens estáticas e linguagem, tanto a identificação do
alvo e da fonte quanto às características mapeáveis devem ser identificáveis
mais ou menos à primeira vista. Em Forceville (1996), quatro subtipos de
metáfora pictórica/visual foram identificados.
3.1.1 MP1 ou Metáfora Contextual
Um objeto visual, ao ser apresentado em um contexto específico, pode funcionar como alvo de uma metáfora ao ser interpretado como outra coisa, a fonte. Uma metáfora contextual é uma figura de linguagem onde o significado de uma palavra ou expressão é modificado ou ampliado devido ao contexto em que é utilizada. O contexto pode ser o ambiente onde a frase é falada, a situação, a cultura ou até mesmo a interação entre os falantes.
Exemplo: "O
Congresso virou um campo de batalha."
Utilizada principalmente em contexto político ou
jornalístico.
“Campo de batalha” não é literal — refere-se a um ambiente de conflito intenso, disputas e enfrentamentos, geralmente entre partidos ou grupos de interesse. Fora do contexto político, essa metáfora perde o sentido.
Fonte: Corrupção
3.1.2 MP2 ou Metáfora HíbridaUma metáfora híbrida é uma figura de linguagem
que combina elementos de comparação (símile) e metáfora. Em vez de uma
comparação direta (com "como" ou "tal como"), ela apresenta
uma semelhança entre dois elementos sem usar conectivos explícitos, mas
mantendo um efeito metafórico. O que é típico deste subtipo é que o alvo e
a fonte foram fisicamente integrados.
- “Vulcão
silencioso” remete a natureza e perigo contido.
- “Fios soltos na
alma” vem do vocabulário técnico/tecnológico e psicológico.
Mistura natureza + tecnologia + emoção.
- "Jardim"
→ domínio da natureza, representa crescimento, vida, organização viva.
- "Elétrico"
→ domínio da tecnologia/ciência, faz referência à atividade neural,
impulsos elétricos do cérebro.
Fonte:
Brain Tree Illustration Imagens
Símile é uma comparação
explícita, geralmente usando palavras: “como”, “tal qual”, “assim como”. Ao
contrário da metáfora direta, a símile mantém a estrutura comparativa explícita.
3.1.4 Metáfora Verbo-pictórica
Uma metáfora verbo-pictórica, ou metáfora
visual-verbal, é uma forma de metáfora em que um dos termos da comparação
é expressado através de uma imagem (visual) e o outro através de palavras
(verbal). Em outras palavras, é uma metáfora onde a imagem e o texto
trabalham em conjunto para criar um significado mais amplo.
Exemplo:
“A floresta respira por você.”
Fonte: Árvore em forma de pulmão
3.1.5 Metáforas Integradas/Metáforas de Produto
O trabalho de Thomas van Rompay e Nazlı Cila sugere uma quinta categoria, que, no entanto, funciona apenas para objetos tridimensionais. Van Rompay (2005) pesquisou como produtos tridimensionais (e, por extensão, proponho, edifícios) se prestam à metaforização, criando um produto (o alvo) que assume qualidades formais cruciais de algo mais (a fonte), com o objetivo de conferir características formais e/ou conceituais associadas a essa fonte a esse produto. Em Forceville (2008), rotulei essa nova categoria de "metáforas integradas".
3.2 Domínio de fonte intradiegético ou extradiegético?
Fontes intradiegéticas são realistas e integradas à narrativa, enquanto extradiegéticas são externas e servem para destacar simbolicamente uma metáfora. Nenhuma é superior à outra, a escolha depende do efeito desejado. Fontes extradiegéticas tendem a ser mais didáticas e exigem maior interpretação. Essa distinção também se conecta à diferença entre metáforas monomodais e multimodais, influenciando como o público percebe ou interpreta a metáfora como natural ou artificial.
3.3 Gênero
Gênero é o equivalente discursivo do que Goffman (1974) chamou de tipo de atividade e é o elemento pragmático mais importante que rege a interpretação de "textos". Assim que sabemos ou pensamos saber a que gênero um discurso pertence, recrutamos toda uma gama de expectativas que orientam e restringem nossas interpretações. O gênero discursivo é o elemento pragmático que rege a interpretação dos textos, orientando as expectativas do receptor, por exemplo:
Na publicidade, metáforas tendem a atribuir conotações positivas ao produto;
Em charges políticas, predominam conotações negativas e críticas;
Em livros didáticos, metáforas estruturais são usadas para instrução;
Em filmes, metáforas podem ser mais abertas e descritivas.
Fonte: KAYSER. Charge.
3.4 Metáforas criativas versus estruturais
A pesquisa sobre manifestações não verbais e multimodais de metáforas estruturais é relativamente recente. Para tanto, as metáforas criativas, também chamadas por Lakoff e Turner de "metáforas de imagem", envolvem mapeamentos originais e específicos entre uma fonte e um alvo, gerando efeitos únicos e expressivos. Por outro lado, uma metáfora estrutural pode ser usada em um contexto tal que "novos" mapeamentos surgem ou sejam sinalizados, sendo mais convencionais e sistemáticas, expressando formas recorrentes de entender conceitos abstratos com base em experiências concretas.
3.5 Metáfora Monomodal ou Multimodal?
Em uma metáfora multimodal, tanto o alvo quanto a fonte são representados “exclusiva ou completamente” em modos diferentes, ou seja, o que para uma pessoa seria uma metáfora monomodal da variedade pictórica, seria para outra uma metáfora multimodal da variedade pictórico-verbal. Para os propósitos atuais, o que importa é que pode depender do contexto de acesso, ou do conhecimento prévio do destinatário, se uma determinada metáfora é considerada monomodal ou multimodal. Desse modo, mesmo que a identificação do alvo e da fonte por si só possa ser uma questão monomodal, uma apreciação completa do significado de uma metáfora depende do mapeamento de (conjuntos de) características apropriadas da fonte para o alvo. Estas podem ser sinalizadas de várias maneiras.
3.6 Metáfora e Outros Tropos
Conforme o texto em análise, Black estava certo ao alertar que seu modelo de metáfora interativa se aplica apenas à metáfora no sentido estrito, deplorando a tendência “de considerar todos os usos figurativos da linguagem como metafóricos e, dessa forma, ignorar as importantes distinções entre metáfora e outras figuras de linguagem como símile, metonímia e sinédoque” (1979, 20). Essa ressalva também deve ser levada a sério por estudiosos de metáforas não verbais e multimodais. Embora a Teoria da Metáfora Conceitual (TMC) tenha dominado os estudos figurativos por décadas, ela só começou tardiamente e, por isso, os estudos visuais e multimodais sobre essas figuras ainda são escassos. O texto destaca algumas pesquisas pioneiras que investigam formas visuais e verbo-visuais de outros tropos: trocadilhos visuais, oxímoros pictóricos, metonímias visuais e o fenômeno do agrupamento de imagens como recurso expressivo.
4 Avaliação crítica do(s) método(s)
A pesquisa sobre metáforas visuais e multimodais ainda está em estágio inicial, tornando prematuro emitir avaliações conclusivas. Um dos principais desafios é identificar com precisão as pistas “textuais” que ativam a metáfora em discursos multimodais. Isso é complicado porque essas metáforas ainda não são claramente diferenciadas de outros tropos não verbais e porque sua interpretação pode variar entre os indivíduos. Há, portanto, necessidade de critérios analíticos mais rigorosos que considerem o contexto, o gênero, a verbalização e a metodologia para distinguir metáforas pictóricas das multimodais.
Considerações
O estudo de metáforas não verbais e multimodais ainda está em desenvolvimento. A distinção entre metáfora e outros tropos (como símile ou metonímia) é fundamental para análises precisas. Avanços exigem metodologias mais rigorosas e colaboração entre áreas como linguística, design, comunicação e ciências cognitivas.
Referências
FORCEVILLE, Charles. Pictorial and multimodal metaphor. In: KLUG, Nina Maria; STOCKL, Hartmut. The language in multimodal contexts handbook. Berlin: De Gruyter, 2016. p. 1-21. Disponível em: https://www.academia.edu/12925438/Pictorial_and_multimodal_metaphor_In_Nina_Maria_Klug_and_Hartmut_St%C3%B6ckl_eds_Handbuch_Sprache_im_multimodalen_Kontext_The_Language_in_Multimodal_Contexts_Handbook_. Acesso em: 1 de junho 2025.
LAKOFF, George; JOHNSON, Mark. Metaphors we live by. Chicago: The University of Chicago Press, 1980. Disponível em: https://ceulearning.ceu.edu/pluginfile.php/100337/mod_forum/attachment/9319/Metaphors%20We%20Live%20By.pdf. Acesso em: 1 jun. 2025.
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