Olá, queridos leitores!
Chegamos à nossa sétima postagem do blog,
e hoje falaremos sobre o modelo de comunicação de Stuart Hall, um dos
teóricos mais influentes dos estudos culturais. Hall propôs que a comunicação
ocorre em quatro etapas: produção, circulação, utilização e reprodução. Diferente das teorias tradicionais, ele destaca que o público não é passivo,
mas interpreta as mensagens com base em sua bagagem cultural. Assim, uma mesma
mensagem pode ser compreendida de maneiras diferentes, dependendo da posição
adotada pelo receptor: dominante, negociada ou oposicional. Vamos entender como
isso se aplica no nosso cotidiano, especialmente na mídia!
Stuart Hall e a Teoria da Recepção
Stuart Hall foi um importante pensador
cujos escritos se concentraram principalmente em temas como preconceito racial,
mídia, teorias sociais e culturais, com destaque para o conceito de hegemonia.
Para Hall, no entanto, a hegemonia vai além da força física ou política, ela se
manifesta, sobretudo, na manipulação de crenças e valores por meio da
linguagem. A linguagem, segundo ele, é o principal meio pelo qual as ideologias
dominantes se impõem. Nesse sentido, a cultura não é neutra nem apenas um
espaço de apreciação, ela é um campo de disputa, onde se estabelecem e
reproduzem relações de poder.
Dessa forma, sua origem étnica e o fato de
ter crescido em uma colônia britânica influenciaram profundamente sua visão
sobre a comunicação e a recepção das mensagens. Hall observou que
interpretações diferentes podem surgir de uma mesma mensagem, dependendo do
contexto social e cultural de cada indivíduo. Essa percepção o levou a
desenvolver uma abordagem própria sobre a comunicação, especialmente
influenciada por ideias semelhantes às do teórico Umberto Eco.
Contudo, diferente de abordagens
anteriores, como a de Hans-Robert Jauss, Hall argumenta que a comunicação não é
automaticamente compreendida pelo público, pois a interpretação depende de
fatores culturais compartilhados entre autor e receptor. Quando esses fatores
não estão presentes, a mensagem pode ser interpretada de maneira diferente da
intenção original. Umberto Eco complementa essa ideia ao introduzir o conceito
de “decodificação aberrante”, que ocorre quando emissor e receptor não
compartilham o mesmo sistema de codificação, o que pode gerar interpretações
divergentes por conta de barreiras linguísticas, culturais ou ideológicas.
Em seu artigo Codificação e Decodificação no Discurso Televisivo, Hall formalizou sua teoria da comunicação, propondo que esse processo não é linear. Ele sugeriu que há várias etapas entre o emissor e o receptor e que o público desempenha um papel ativo e essencial na interpretação da mensagem — sendo, portanto, uma peça fundamental para o sucesso ou fracasso da comunicação.
Codificar
é o envio de uma mensagem para que outra pessoa possa entendê-la. É necessário
que haja regras ou símbolos compartilhados, e é importante que o remetente
pense em seu público e em como ele interpretará a mensagem. Durante a produção
da mensagem, o remetente usa sinais verbais, sinais e linguagem corporal que
acredita que a pessoa ou o grupo que recebe a mensagem compreenderá (Hall,
1973). Embora a pessoa que envia a mensagem possa acreditar que está sendo
clara, Hall acreditava que o significado não é fixo e é criado junto com a
mensagem (Davis, 2004). A decodificação de uma mensagem é definida como
a eficácia com que alguém consegue receber e compreender uma mensagem. Pode ser
resultado de mensagens verbais, mas nem sempre precisa ser. Pode ser por meio
de imagens ou mídia, emoções ou até mesmo linguagem corporal.
Fonte:
Codificação e Decodificação
Nesse contexto, para que o processo seja
bem-sucedido, a mensagem recebida ou decodificada deve ser exatamente a mesma
que foi codificada e, então, resultar no processo ou ato apropriado. Um exemplo
seria uma mãe pedindo ao filho para fazer a lição de casa ou lavar a louça e a
criança obedecendo ou respondendo que já terminou. Quando uma mensagem como
essa é recebida e compreendida, Hall se refere a isso como uma leitura
preferencial, pois é o que o codificador acredita que deve ser compreendido ou
transmitido (Hall, 1973).
Exemplo 1
A
professora diz: “Quero que vocês façam um resumo das principais ideias da
Teoria da Recepção de Hall”.
Aluno A interpreta
a instrução como um resumo crítico, acreditando que deve incluir sua
opinião e análise pessoal. Ele vai além do pedido e entrega um texto com
comentários próprios, o que não era esperado pela professora.
Aluno B entende
que deve fazer apenas um resumo descritivo, limitando-se a copiar as
ideias principais sem refletir ou reescrever com suas próprias palavras,
entregando um trabalho superficial.
Em palavras mais simples, a produção deve
seguir regras, e mais especificamente regras de linguagem, para transmitir seu
ponto (Procter, 2004). Caso contrário, a mensagem e o sistema sofrerão e se
tornarão ineficazes. O modelo de comunicação de Stuart Hall é composto por
quatro etapas principais. A primeira é a produção, equivalente à codificação
da mensagem, onde o conteúdo é criado com base em pressupostos culturais e
sociais voltados ao público-alvo. A segunda é a circulação, que se refere à
forma como a mensagem é enviada e recebida, influenciando diretamente a reação
do público. A terceira é a utilização, momento em que o público interpreta e
atribui significado à mensagem, influenciado pela clareza e relevância do
conteúdo. A quarta e última etapa é a reprodução, que corresponde à
resposta prática do público — como agir, comprar ou pensar de determinada forma
após receber a mensagem.
Hall argumenta que, embora a mídia seja codificada com um significado, cada um de nós interage com ela de maneiras diferentes. Como resultado, a teoria de Hall também afirma que existem três posições diferentes que se pode assumir ao decodificar uma mensagem televisiva: dominante, negociada e oposicional (Hall et al., 1980).
Exemplo 2
Codificação:
Uma marca de cosméticos lança um comercial com modelos de pele perfeita, com a
mensagem implícita de que o produto traz autoestima e felicidade.
Decodificação:
Leitura dominante:
O público aceita a mensagem como verdadeira e passa a acreditar que aquele
produto realmente melhora a autoestima.
Leitura negociada:
O espectador entende a intenção, mas acredita que o produto pode funcionar
apenas para algumas pessoas.
Leitura oposicional: Alguém pode rejeitar completamente a mensagem, dizendo que ela reforça padrões estéticos irreais e promove consumismo.
Exemplo 3
Codificação:
Uma influenciadora digital posta um vídeo dizendo que “acordar às 5h e
trabalhar duro” é o segredo do sucesso.
Decodificação:
Leitura dominante: Seguidores
veem a influenciadora como um exemplo de disciplina e tentam seguir a mesma
rotina.
Leitura negociada:
Alguns concordam parcialmente, mas reconhecem que a realidade nem sempre
permite isso.
Leitura oposicional: Outros criticam a mensagem como elitista e descolada da realidade de quem enfrenta condições de trabalho exaustivas.
Compreende-se que o processo de codificação e decodificação vai além do simples envio e recebimento de uma mensagem. Cada etapa possui significado próprio e desempenha um papel fundamental para o sucesso da comunicação. Desse modo, a teoria de Stuart Hall, amplamente aplicada ao longo do tempo, continua sendo relevante e indispensável para a compreensão dos processos comunicativos até os dias de hoje.
REFERÊNCIAS
JACKS,
Nilda; WOTTRICH, Laura Hastenpflug. O legado de Stuart Hall para os estudos
de recepção no Brasil. Matrizes, São Paulo, v. 10, n. 3, p. 159-172, 2016.
Disponível em: https://revistas.usp.br/matrizes/article/view/124661/121885.
Acesso em: 17 maio 2025. DOI: http://dx.doi.org/10.11.606/issn.1982-8160.v10.i3p.159-172.
HALL, Stuart. Encoding and Decoding in the Television Discourse. Centre for Cultural Studies, University of Birmingham, 1973.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução de Tomaz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro. 10. Ed. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2005.
Que postagem Linda! Parabéns
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