Olá, queridos leitores!

Chegamos à nossa sétima postagem do blog, e hoje falaremos sobre o modelo de comunicação de Stuart Hall, um dos teóricos mais influentes dos estudos culturais. Hall propôs que a comunicação ocorre em quatro etapas: produção, circulação, utilização e reprodução. Diferente das teorias tradicionais, ele destaca que o público não é passivo, mas interpreta as mensagens com base em sua bagagem cultural. Assim, uma mesma mensagem pode ser compreendida de maneiras diferentes, dependendo da posição adotada pelo receptor: dominante, negociada ou oposicional. Vamos entender como isso se aplica no nosso cotidiano, especialmente na mídia!

Stuart Hall e a Teoria da Recepção


Stuart Hall foi um importante acadêmico jamaicano-britânico, considerado um dos fundadores dos estudos culturais. Nascido em 1932 na Jamaica, atuou como diretor do CCCS em Birmingham e professor na Open University. Desenvolveu a teoria da codificação e decodificação na mídia e abordou temas como identidade, raça, classe, gênero e cultura popular. Hall deixou um legado duradouro nos debates sobre política, mídia e poder, influenciando estudiosos no mundo todo.

Stuart Hall foi um importante pensador cujos escritos se concentraram principalmente em temas como preconceito racial, mídia, teorias sociais e culturais, com destaque para o conceito de hegemonia. Para Hall, no entanto, a hegemonia vai além da força física ou política, ela se manifesta, sobretudo, na manipulação de crenças e valores por meio da linguagem. A linguagem, segundo ele, é o principal meio pelo qual as ideologias dominantes se impõem. Nesse sentido, a cultura não é neutra nem apenas um espaço de apreciação, ela é um campo de disputa, onde se estabelecem e reproduzem relações de poder.

Dessa forma, sua origem étnica e o fato de ter crescido em uma colônia britânica influenciaram profundamente sua visão sobre a comunicação e a recepção das mensagens. Hall observou que interpretações diferentes podem surgir de uma mesma mensagem, dependendo do contexto social e cultural de cada indivíduo. Essa percepção o levou a desenvolver uma abordagem própria sobre a comunicação, especialmente influenciada por ideias semelhantes às do teórico Umberto Eco.

Contudo, diferente de abordagens anteriores, como a de Hans-Robert Jauss, Hall argumenta que a comunicação não é automaticamente compreendida pelo público, pois a interpretação depende de fatores culturais compartilhados entre autor e receptor. Quando esses fatores não estão presentes, a mensagem pode ser interpretada de maneira diferente da intenção original. Umberto Eco complementa essa ideia ao introduzir o conceito de “decodificação aberrante”, que ocorre quando emissor e receptor não compartilham o mesmo sistema de codificação, o que pode gerar interpretações divergentes por conta de barreiras linguísticas, culturais ou ideológicas.

Em seu artigo Codificação e Decodificação no Discurso Televisivo, Hall formalizou sua teoria da comunicação, propondo que esse processo não é linear. Ele sugeriu que há várias etapas entre o emissor e o receptor e que o público desempenha um papel ativo e essencial na interpretação da mensagem — sendo, portanto, uma peça fundamental para o sucesso ou fracasso da comunicação.

Stuart Hall - Kodieren/ Dekodieren by Anna-Theresa S on Prezi

Fonte: Stuart Hall

Codificar é o envio de uma mensagem para que outra pessoa possa entendê-la. É necessário que haja regras ou símbolos compartilhados, e é importante que o remetente pense em seu público e em como ele interpretará a mensagem. Durante a produção da mensagem, o remetente usa sinais verbais, sinais e linguagem corporal que acredita que a pessoa ou o grupo que recebe a mensagem compreenderá (Hall, 1973). Embora a pessoa que envia a mensagem possa acreditar que está sendo clara, Hall acreditava que o significado não é fixo e é criado junto com a mensagem (Davis, 2004). A decodificação de uma mensagem é definida como a eficácia com que alguém consegue receber e compreender uma mensagem. Pode ser resultado de mensagens verbais, mas nem sempre precisa ser. Pode ser por meio de imagens ou mídia, emoções ou até mesmo linguagem corporal.

Processo de Comunicação

Fonte: Codificação e Decodificação

Nesse contexto, para que o processo seja bem-sucedido, a mensagem recebida ou decodificada deve ser exatamente a mesma que foi codificada e, então, resultar no processo ou ato apropriado. Um exemplo seria uma mãe pedindo ao filho para fazer a lição de casa ou lavar a louça e a criança obedecendo ou respondendo que já terminou. Quando uma mensagem como essa é recebida e compreendida, Hall se refere a isso como uma leitura preferencial, pois é o que o codificador acredita que deve ser compreendido ou transmitido (Hall, 1973).

Exemplo 1

A professora diz: “Quero que vocês façam um resumo das principais ideias da Teoria da Recepção de Hall”.

Aluno A interpreta a instrução como um resumo crítico, acreditando que deve incluir sua opinião e análise pessoal. Ele vai além do pedido e entrega um texto com comentários próprios, o que não era esperado pela professora.

Aluno B entende que deve fazer apenas um resumo descritivo, limitando-se a copiar as ideias principais sem refletir ou reescrever com suas próprias palavras, entregando um trabalho superficial.

Em palavras mais simples, a produção deve seguir regras, e mais especificamente regras de linguagem, para transmitir seu ponto (Procter, 2004). Caso contrário, a mensagem e o sistema sofrerão e se tornarão ineficazes. O modelo de comunicação de Stuart Hall é composto por quatro etapas principais. A primeira é a produção, equivalente à codificação da mensagem, onde o conteúdo é criado com base em pressupostos culturais e sociais voltados ao público-alvo. A segunda é a circulação, que se refere à forma como a mensagem é enviada e recebida, influenciando diretamente a reação do público. A terceira é a utilização, momento em que o público interpreta e atribui significado à mensagem, influenciado pela clareza e relevância do conteúdo. A quarta e última etapa é a reprodução, que corresponde à resposta prática do público — como agir, comprar ou pensar de determinada forma após receber a mensagem.

Vícios de Linguagem: Exemplos e Exercícios | Como Escreve?

Fonte: Como escreve?

Hall argumenta que, embora a mídia seja codificada com um significado, cada um de nós interage com ela de maneiras diferentes. Como resultado, a teoria de Hall também afirma que existem três posições diferentes que se pode assumir ao decodificar uma mensagem televisiva: dominante, negociada e oposicional (Hall et al., 1980).

Exemplo 2

Codificação: Uma marca de cosméticos lança um comercial com modelos de pele perfeita, com a mensagem implícita de que o produto traz autoestima e felicidade.

Pele Perfeita na maquiagem: quais produtos devo usar - Blog Makie

Fonte: Publicidade

Decodificação:

Leitura dominante: O público aceita a mensagem como verdadeira e passa a acreditar que aquele produto realmente melhora a autoestima.

Leitura negociada: O espectador entende a intenção, mas acredita que o produto pode funcionar apenas para algumas pessoas.

Leitura oposicional: Alguém pode rejeitar completamente a mensagem, dizendo que ela reforça padrões estéticos irreais e promove consumismo.

Exemplo 3

Codificação: Uma influenciadora digital posta um vídeo dizendo que “acordar às 5h e trabalhar duro” é o segredo do sucesso.

Fonte: Marketing

Decodificação:

Leitura dominante: Seguidores veem a influenciadora como um exemplo de disciplina e tentam seguir a mesma rotina.

Leitura negociada: Alguns concordam parcialmente, mas reconhecem que a realidade nem sempre permite isso.

Leitura oposicional: Outros criticam a mensagem como elitista e descolada da realidade de quem enfrenta condições de trabalho exaustivas.

Compreende-se que o processo de codificação e decodificação vai além do simples envio e recebimento de uma mensagem. Cada etapa possui significado próprio e desempenha um papel fundamental para o sucesso da comunicação. Desse modo, a teoria de Stuart Hall, amplamente aplicada ao longo do tempo, continua sendo relevante e indispensável para a compreensão dos processos comunicativos até os dias de hoje.

REFERÊNCIAS

JACKS, Nilda; WOTTRICH, Laura Hastenpflug. O legado de Stuart Hall para os estudos de recepção no Brasil. Matrizes, São Paulo, v. 10, n. 3, p. 159-172, 2016. Disponível em: https://revistas.usp.br/matrizes/article/view/124661/121885. Acesso em: 17 maio 2025. DOI: http://dx.doi.org/10.11.606/issn.1982-8160.v10.i3p.159-172.

HALL, Stuart. Encoding and Decoding in the Television Discourse. Centre for Cultural Studies, University of Birmingham, 1973.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução de Tomaz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro. 10. Ed. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2005.

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